Risco Baixo, Médio e Alto: Como Decifrar Não Conformidades na Prática

Uma parede descascada no corredor é a mesma coisa que uma parede descascada na sala de envase? Um piso sujo na área administrativa tem o mesmo peso que um piso sujo na área de produção?

Se você já ficou em dúvida sobre quando deve parar uma linha de produção e quando pode deixar para resolver depois, você não está sozinho. E o problema não é falta de vontade de fazer certo. O problema é que ninguém explica de forma clara o que diabos é risco baixo, médio e alto na prática do dia a dia.

O que acontece? Ou você vira aquele profissional que “enche o saco” da produção por qualquer besteira, ou você deixa passar coisas que realmente deveriam te preocupar. Nos dois casos, você perde credibilidade.

O Que é Risco, Afinal de Contas?

Isso é uma das coisas que todo mundo tem muita dúvida porque é muito abstrato. Então vamos deixar simples: risco é uma falha dentro de um programa de autocontrole que envolve um processo não conforme, gerando produtos potencialmente não conformes.

Qualquer achado que ofereça perda de veracidade ou tenha impacto em informações de monitoramento ou verificação dentro dos 13 elementos de inspeção é considerado algo de risco.

Ficou abstrato do mesmo jeito? Vamos aos exemplos práticos.

diferença entre os riscos das não conformidades
Imagem: Arquivo pessoal

Risco Baixo, Não Conformidade Menor

O Que Caracteriza

São não conformidades realmente pequenas que não têm impacto nenhum na segurança do processo e do produto que está acontecendo ali. Devem ser resolvidas? Sim. Você pode ter piso sujo, paredes descascando, ferrugem? Não. Mas isso justifica parar um processo? Também não.

Exemplo Prático do Dia a Dia

  • Piso sujo no corredor de circulação, mas a área de processamento está toda fechada. É uma não conformidade? Sim. Tem que ser tratada? Sim. Mas eu não vou tirar o cara da linha de paletização para ir lá lavar o canto da parede.
  • Durante a liberação de uma linha, você encontra um farelinho de queijo na esteira de saída do encaixotamento. Tem que limpar? Tem. Mas está depois do envase, na área de saída. Não justifica parar nada.

Como Atuar

Aqui você anota a não conformidade no seu checklist e coloca apenas uma ação de correção com tempo para ser executado. Você não para o processo.

A ação de correção é tirar as caixas, organizar a área, limpar o piso. O tempo para executar pode ser até o final do turno, final do ciclo, algo assim.

O desafio aqui não é técnico. É político. Porque a produção vai olhar para você e pensar “ela está enchendo o saco à toa”. E você precisa manter a firmeza de que aquilo precisa ser resolvido, mas sem perder a noção do que é realmente prioritário.

Risco Médio, Não Conformidade Maior

O Que Caracteriza

Algo que potencialmente vai ofender seu produto no curto prazo. Não está causando problema agora, mas tem potencial de causar uma não conformidade crítica se você não tratar rapidinho.

Exemplo Prático do Dia a Dia

  • Você vai inspecionar uma linha para liberar para produção. Os operadores lavaram, você vai lá fazer a inspeção. Você olha dentro da linha e vê que o CIP não retirou totalmente a gordura. Aqui você vai ter que mandar fechar a linha e lavar novamente. Não tem conversa.

Como Atuar

Aqui não tem muito acordo. Você vai ter que ter uma atuação de momento ou de curtíssimo prazo. As ações têm um impacto mais forte, porque você precisa evitar uma não conformidade maior.

No caso da linha mal lavada, você vai mandar fazer um novo CIP. Tem custo de tempo, custo de parada, custo de químico. Mas você não tem produto preso ainda. Você está tendo uma atuação forte no processo para evitar que o produto seja contaminado.

Seu impacto é só no processo, mas é uma ação que não é negociável. E aqui você já está tomando decisões que afetam a programação de produção, que geram custo, que podem atrasar entregas. Você precisa ter certeza técnica do que está falando para sustentar essa decisão quando a produção questionar.

Risco Alto, Não Conformidade Crítica

O Que Caracteriza

Aqui não tem conversa. Seu processo já sofreu descontrole e está gerando produto não conforme. A parada é imediata, bloqueio do produto e avaliação de tudo, porque seu processo já está em risco.

Exemplo Prático do Dia a Dia

Você chega numa linha de produção e a data de validade do produto está saindo apagada. O lote está saindo apagado. Está tudo lindo, maravilhoso, não tem linha vazando, não tem nada, mas o negócio está saindo apagado.

Aqui você tem uma falha no programa de rastreabilidade. É impossível o consumidor reclamar adequadamente se ele encontrar aquilo no supermercado e tiver um problema. Você não consegue fazer rastreabilidade, não consegue fazer recolhimento.

E o achado significa que seu processo está falho em algo e aquele produto que está saindo está potencialmente não conforme. Quantas garrafinhas estão realmente com a data apagada? Você não sabe se são todas ou algumas.

Como Atuar

Aqui as ações realmente têm que vir no processo e no produto. Investigação de causa, ações corretivas, tanto em processo quanto em produto. E se for fiscalização, você tem que negociar isso com o fiscal no ato. Por isso é tão difícil.

Porque nesse caso específico você vai ter que fazer uma triagem 100% nos produtos para garantir que não saiam produtos em desacordo, mas quem vai fazer? Tem gente disponível? Tem espaço físico para segregar o produto? E depois, o que você faz com o produto não conforme? Tem via de reprocesso? Vai descartar? Como documenta tudo isso?

São camadas de decisão que vêm em cascata e você precisa ter resposta para todas.

A Diferença Entre Risco Médio e Risco Alto Que Muda Tudo

Muita gente confunde. Então vamos deixar claro:

Risco médio: Seu produto ainda não está em risco. É um achado grande que vai colocá-lo em risco. Seu processo está dando indícios de desconformidade. Você não precisa pará-lo definitivamente, não precisa prender produto, mas tem que intervir porque você ainda não gerou produto não conforme.

Risco alto: Seu processo já está sob descontrole e já está gerando produto não conforme. Aqui não tem negociação. As duas frentes (processo e produto) têm que ser tratadas simultaneamente.

A diferença parece sutil, mas na prática muda completamente sua abordagem. E muda o que o fiscal vai exigir de você. No risco médio, você ainda está evitando o problema. No risco alto, você já está gerenciando o estrago.

Por Que Dominar Isso Abre um Novo Mundo Para a Qualidade

Quando você entende essa classificação, você sai da posição de “aquele chato da qualidade” e vira o profissional que realmente defende os pilares de gestão de qualidade: o interesse do cliente, do órgão regulador e da própria empresa.

Você passa a ter critério técnico para decidir quando vale a pena parar um processo e quando não vale. Menos conflito com a produção porque quando você pede para parar, eles sabem que é sério. Mais credibilidade com a equipe. Preparação real para fiscalização porque você demonstra domínio técnico, não improviso.

Isso vale não só para auditorias de fiscalização, como para auditorias de cliente, auditorias de segunda parte. E não só auditoria. Vale para a própria sistematização da qualidade dentro da empresa.

Afinal de contas, quando é que você tem que ficar lá no pé da galera na linha de produção? Quando não? Quando realmente você está defendendo qualidade e quando você só está sendo chato mesmo e pegando coisa nada a ver?

Ter esse critério claro te transforma de “aquela pessoa que fica pegando no pé” em “a pessoa que eu escuto quando ela fala que tem problema, porque quando ela fala, é sério”.

Conclusão

Entender risco baixo, médio e alto não é decorar definições. É desenvolver o olhar técnico para avaliar situações reais, com todas as suas variáveis, e tomar decisões que fazem sentido operacionalmente.

Porque na teoria é tudo muito claro. Na prática, você tem pressão de produção, pressão de custo, pressão de prazo. E você precisa sustentar suas decisões tecnicamente, explicar para a equipe por que aquilo ali precisa ser tratado daquele jeito, e ainda documentar tudo de forma que um auditor ou fiscal aceite.

É por isso que a qualidade é difícil. Não é por falta de conhecimento técnico. É pela capacidade de aplicar esse conhecimento em um ambiente cheio de pressões e variáveis.


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Autor

  • Mineira, formada em Laticínios pela UFV, com mais de 18 anos de chão de fábrica. Já passei por muita coisa na área da Qualidade, e foi vivendo tudo isso que vi que dava pra fazer diferente: com mais clareza, mais prática e menos enrolação. Hoje compartilho esse caminho no Descomplica e na Qualy, pra quem quer sair do “só teoria” e fazer acontecer de verdade.

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