“Mas isso é o básico!”. Quantas vezes não ouvimos essa frase no setor de laticínios? A verdade, porém, é que o básico, quando ignorado ou mal compreendido, é a principal causa de falhas em um Sistema de Gestão da Qualidade. E no topo da lista de conceitos mal aplicados estão dois termos que parecem sinônimos, mas não são: Monitoramento e Verificação.
Compreender a fundo a diferença entre eles é o que separa um sistema que funciona de um amontoado de “planilhas de armário”, preenchidas apenas para constar. Como diz a especialista em qualidade de laticínios, Joelma, essa confusão é onde o erro começa.

O que é Monitoramento?
Monitorar é uma atividade executada durante um processo. O monitoramento serve para ter informação e conseguir tomar ação no momento da não conformidade, na evidência da não conformidade ou dentro de um período especificado – que é a frequência do monitoramento estabelecida.
Um exemplo clássico é o teste de atmosfera modificada em uma linha de queijos fatiados. A cada duas horas, um operador (o monitor) mede a atmosfera modificada dentro das bandejinhas de fatiado. Se ele encontra um desvio na quantidade de oxigênio, ele sabe que precisa agir imediatamente, e sua ação abrangerá toda a produção feita desde o último monitoramento conforme.
Os monitoramentos são estrategicamente controlados para monitorar vulnerabilidades do processo. No momento em que você desenha todo o seu programa de autocontrole, você estabelece dentro de cada área, de cada processo, aquilo que é vulnerável. E aí você coloca um monitoramento. Por quê? Por mais que o processo esteja afinadinho, se isso sair do padrão, será um problema.
Voltando ao exemplo das bandejinhas da linha de fatiado: de tempo em tempo você tem que ir lá medir a atmosfera modificada, porque já pensou se a máquina perde o parâmetro? Você corre o risco de ter um dia inteiro de produção que vai embolorar.
O monitoramento tem a intenção de dar munição para ter uma ação imediata e que comprometa a menor quantidade de produto possível.
O que é Verificação?
Se o monitoramento é a ação, a verificação é a auditoria dessa ação. A verificação é sempre uma atividade posterior ao monitoramento. Seu objetivo é confirmar a conformidade do monitoramento que já aconteceu.
Usando o mesmo exemplo da linha de fatiados, a verificação acontece quando, no final do turno, alguém da Qualidade pega aquela planilha de controle e confere:
- A frequência de 2 horas foi cumprida?
- Os resultados estavam dentro do padrão?
- E se teve algum desvio, ele foi tratado e registrado corretamente?
Esta é a finalidade de uma verificação. Ela verifica se o monitoramento realmente foi executado de acordo com o preconizado dentro dos programas e se as não conformidades evidenciadas foram devidamente tratadas.
Como estabelecer a frequência de Monitoramento
E aqui vai um ponto que me dá até um teto preto: a definição da frequência. Cansei de ver a Qualidade definindo umas frequências bem loucas, tipo monitorar algo de 15 em 15 minutos, sem base nenhuma. O que acontece? O operador não consegue cumprir e, no final do turno, ele simplesmente preenche a planilha de uma vez só no armário. O registro vira uma mentira.
O que TEM que ser feito é avaliar a frequência com base no risco real.
Vou dar outro exemplo prático: Imagina que você tem uma envasadora de requeijão que, segundo a equipe de Manutenção, tem uma vulnerabilidade e pode descalibrar a cada 3 horas. Por que você vai colocar o operador para monitorar o peso a cada 15 minutos? A frequência correta é aquela que controla a vulnerabilidade real do seu processo, que nesse caso seria perto de a cada 3 horas. Nem mais, nem menos. O necessário.
Quem pode fazer Monitoramento e Verificação?
E isso nos leva à pergunta final: só a Qualidade pode monitorar? Não! Muito pelo contrário.
A maior parte dos monitoramentos está nas mãos da produção. O operador que pesa o requeijão, que mede a temperatura do silo, ele é o seu monitor.
E aqui vem a regra de ouro que não pode ser quebrada: quem monitora pode verificar?
Não. E aqui é um não redondo.
Por quê? São coisas diferentes, buscando resultados diferentes. A verificação precisa de um olhar imparcial.
Quem monitora está focado na execução da tarefa. Quem verifica precisa de um olhar externo e crítico para garantir que o sistema está funcionando como planejado.
Na prática, a maior parte dos “monitores” de uma indústria são os próprios operadores da produção, da plataforma ou do laboratório. Eles estão preenchendo as planilhas de produção, de peso, de temperatura. A verificação dessas planilhas deve ser feita por outra pessoa, como um líder, um supervisor ou o próprio profissional da qualidade.
Entender e aplicar corretamente o conceito de monitoramento e verificação é o primeiro passo para construir um sistema de autocontrole robusto, confiável e que vai muito além de simplesmente cumprir tabela.
Conclusão
Então, resumindo:
- Monitoramento: Ação em tempo real, executada por quem está no processo.
- Verificação: Auditoria posterior, executada por outra pessoa para garantir a conformidade.
Agora eu te pergunto: e aí, no seu laticínio, essa separação é clara? A sua equipe de produção sabe que, em muitos casos, ela é a linha de frente do monitoramento? E a sua verificação garante a credibilidade do seu sistema ou o seu monitor está corrigindo a própria prova?
Pense nisso. O básico bem feito é o que constrói uma qualidade forte de verdade.
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Autor
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Mineira, formada em Laticínios pela UFV, com mais de 18 anos de chão de fábrica. Já passei por muita coisa na área da Qualidade, e foi vivendo tudo isso que vi que dava pra fazer diferente: com mais clareza, mais prática e menos enrolação. Hoje compartilho esse caminho no Descomplica e na Qualy, pra quem quer sair do “só teoria” e fazer acontecer de verdade.